A FORÇA PELO BRASIL

A próxima missão
Marcos Pontes
21/05/2006

Três horas da tarde. Chovia forte. Despedi do meu irmão. Sai do carro. Fechei a porta com a mente ainda lá dentro. Ele partiu lentamente com janelas embaçadas. Olhei ao redor. Ninguém. Sensação de solidão. Apenas chuva, vento, prédios e esperança. Estava na Academia da Força Aérea, em Pirassununga, no interior de São Paulo. Meu primeiro dia. Dia de apresentação. Era o início de uma nova fase. Eu estava na Força Aérea Brasileira!

Naquela mesma manhã eu havia recebido a carta esperada por tanto tempo: a convocação. Liguei para meu irmão. Ele saiu mais cedo do trabalho para me levar para a nova vida. Duas horas e meia de viagem. Tempestade e expectativa. Finalmente, ali estava eu. Sozinho, com a mala na mão, olhando ao redor, sob os parabolóides do Corpo de Cadetes da Aeronáutica. “Coragem! Pelo bem das pessoas, você será capaz de fazer qualquer coisa na vida!” Lembrei das palavras de minha mãe. O coração ainda batia forte. Mas comecei a caminhar confiante.

Os anos se passaram dentro da FAB. Tornei-me oficial aviador. Vi o céu dos caçadores. Vi a morte acenar algumas vezes de perto. Continuei o vôo com segurança. Conheci pessoas. Comemorei com muitos amigos. Chorei por alguns. Conheci a vida. Vi meu filho nascer e renascer. Amei. Lutei. Carreguei nossas cores. Vi o céu dos astronautas. Cumpri o meu dever. Plantei sementes do futuro. Vi a colheita nos olhos de jovens felizes. Compreendi minha missão nessa vida.

Os valores que aprendi ao longo da vida de piloto de combate nortearam minha jornada. “Levar a mensagem a Garcia”. Cumprir a promessa. Mesmo que seja sozinho, contra tudo que estiver e vier. Chegar ao objetivo almejado. Vencer pelo país.
A FAB venceu. O Brasil venceu. Chegamos lá juntos. Fizemos as nossas partes nessa batalha. Mas existem muitas outras e temos que continuar lutando pela nossa gente.

O trabalho é longo e muito esforço ainda será necessário por todos nós. A Força Aérea tem dado a sua contribuição há muito tempo. Integração nacional, segurança e controle de tráfego aéreo, missões de resgate, desenvolvimento de tecnologia, centenas de jovens profissionais formados todos os anos e entregues à sociedade, e tantas outras ações.
Sinto-me imensamente agradecido e feliz por ter crescido nessa instituição e por ver o orgulho com o qual, hoje, ela me apóia e direciona para outras batalhas pelo Brasil. Com a satisfação e a certeza de um trabalho bem feito. Produzindo “guerreiros” a serviço da nação, forjados pelo seu modelo de “Coragem, Lealdade, Honra, Dever e Pátria!”.

E assim, nesse momento em que, após concluir meu tempo regulamentar, eu deixo o serviço ativo militar, com grande sentimento de satisfação, orgulho e confiança. Essa transição, necessária para permitir as funções que assumirei em minhas missões futuras pela causa social da educação, da ciência e da tecnologia do país, não representa para mim qualquer afastamento ou mudança significativa.

Não me sinto, de forma alguma, distante da Força Aérea. Ela sempre será parte essencial do que eu fui e serei. Guardada no meu coração e refletida nas minhas ações.

Minhas convicções e valores, nascidos na Aeronáutica e sustentados pelo meu amor pelas nossas cores e pela nossa juventude, continuarão sendo os meus guias nessa nova jornada. A criação e administração de um instituto para promover a educação no país, o trabalho para a continuidade da participação brasileira na Estação Espacial Internacional (EEI / ISS), para a inclusão da indústria nacional no mercado internacional de tecnologia espacial e para a criação de um centro nacional de pesquisas em microgravidade, a luta para termos um segundo astronauta brasileiro, são algumas das atividades que estarei desenvolvendo nesse período.

No início dessa nova fase, lembrando daquele dia de chuva, há muitos anos atrás na Academia da Força Aérea, meu coração também bate forte. Mas a mesma frase, dita pela minha mãe ainda ecoa em minha mente: “Coragem! Pelo bem das pessoas, você será capaz de fazer qualquer coisa na vida!”.

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