Três
horas da tarde. Chovia forte. Despedi do meu irmão. Sai
do carro. Fechei a porta com a mente ainda lá dentro.
Ele partiu lentamente com janelas embaçadas. Olhei ao
redor. Ninguém. Sensação de solidão.
Apenas chuva, vento, prédios e esperança. Estava
na Academia da Força Aérea, em Pirassununga, no
interior de São Paulo. Meu primeiro dia. Dia de apresentação.
Era o início de uma nova fase. Eu estava na Força
Aérea Brasileira!
Naquela
mesma manhã eu havia recebido a carta esperada por tanto
tempo: a convocação. Liguei para meu irmão.
Ele saiu mais cedo do trabalho para me levar para a nova vida.
Duas horas e meia de viagem. Tempestade e expectativa. Finalmente,
ali estava eu. Sozinho, com a mala na mão, olhando ao
redor, sob os parabolóides do Corpo de Cadetes da Aeronáutica.
“Coragem! Pelo bem das pessoas, você será
capaz de fazer qualquer coisa na vida!” Lembrei das palavras
de minha mãe. O coração ainda batia forte.
Mas comecei a caminhar confiante.
Os anos
se passaram dentro da FAB. Tornei-me oficial aviador. Vi o céu
dos caçadores. Vi a morte acenar algumas vezes de perto.
Continuei o vôo com segurança. Conheci pessoas.
Comemorei com muitos amigos. Chorei por alguns. Conheci a vida.
Vi meu filho nascer e renascer. Amei. Lutei. Carreguei nossas
cores. Vi o céu dos astronautas. Cumpri o meu dever.
Plantei sementes do futuro. Vi a colheita nos olhos de jovens
felizes. Compreendi minha missão nessa vida.
Os valores
que aprendi ao longo da vida de piloto de combate nortearam
minha jornada. “Levar a mensagem a Garcia”. Cumprir
a promessa. Mesmo que seja sozinho, contra tudo que estiver
e vier. Chegar ao objetivo almejado. Vencer pelo país.
A FAB venceu. O Brasil venceu. Chegamos lá juntos. Fizemos
as nossas partes nessa batalha. Mas existem muitas outras e
temos que continuar lutando pela nossa gente.
O trabalho
é longo e muito esforço ainda será necessário
por todos nós. A Força Aérea tem dado a
sua contribuição há muito tempo. Integração
nacional, segurança e controle de tráfego aéreo,
missões de resgate, desenvolvimento de tecnologia, centenas
de jovens profissionais formados todos os anos e entregues à
sociedade, e tantas outras ações.
Sinto-me imensamente agradecido e feliz por ter crescido nessa
instituição e por ver o orgulho com o qual, hoje,
ela me apóia e direciona para outras batalhas pelo Brasil.
Com a satisfação e a certeza de um trabalho bem
feito. Produzindo “guerreiros” a serviço
da nação, forjados pelo seu modelo de “Coragem,
Lealdade, Honra, Dever e Pátria!”.
E assim,
nesse momento em que, após concluir meu tempo regulamentar,
eu deixo o serviço ativo militar, com grande sentimento
de satisfação, orgulho e confiança. Essa
transição, necessária para permitir as
funções que assumirei em minhas missões
futuras pela causa social da educação, da ciência
e da tecnologia do país, não representa para mim
qualquer afastamento ou mudança significativa.
Não
me sinto, de forma alguma, distante da Força Aérea.
Ela sempre será parte essencial do que eu fui e serei.
Guardada no meu coração e refletida nas minhas
ações.
Minhas
convicções e valores, nascidos na Aeronáutica
e sustentados pelo meu amor pelas nossas cores e pela nossa
juventude, continuarão sendo os meus guias nessa nova
jornada. A criação e administração
de um instituto para promover a educação no país,
o trabalho para a continuidade da participação
brasileira na Estação Espacial Internacional (EEI
/ ISS), para a inclusão da indústria nacional
no mercado internacional de tecnologia espacial e para a criação
de um centro nacional de pesquisas em microgravidade, a luta
para termos um segundo astronauta brasileiro, são algumas
das atividades que estarei desenvolvendo nesse período.
No início
dessa nova fase, lembrando daquele dia de chuva, há muitos
anos atrás na Academia da Força Aérea,
meu coração também bate forte. Mas a mesma
frase, dita pela minha mãe ainda ecoa em minha mente:
“Coragem! Pelo bem das pessoas, você será
capaz de fazer qualquer coisa na vida!”.